Era uma
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Aprendera este truque de olhar dividido, com um primo distante, lá de
Portugal, o Manezinho Camaleão . Ele
viera passar férias
a este lado
do oceano , e tornaram-se grandes amigos ,
ensinando um ao outro
as suas habilidades .
Alcides maravilhava o
primo , que
temia a água , com
seus longos
mergulhos e saltos de folha em folha .
Foi então que viu
as ervas e flores
junto dum lindo
Ipê Amarelo ,
a se movimentarem, parecendo até que andavam de roda .
Está tudo bem , pensou. E
recostou-se no seu barco-folha,
saboreando um inseto
que passara perto .
Alcides, já consciente
da importância do "causo ", dirigiu a embarcação
para a margem
e em três
saltos atingiu uma moita
de arbustos próximo
da roda silvante.
Aproximou se um pouco mais , e de repente ,
sem que
pudesse saber porquê ,
começou a ter uma vontade
louca de rodopiar
também .
E dançou, dançou, como nenhum sapo antes dançara.
Estava exausto , cheio
de sede , reparou então
que a língua
se lhe enrolara no pescoço ,
como se fora
um cachecol .
Felizmente , ainda
havia alguma água da chuva da noite ,
depositada nas reentrâncias da rocha . E mergulhou nesse banho
benfazejo e reparador .
Lembrou-se da Mãe Sapa que sempre lhe dissera para nunca se afastar da água , e de como
ela , a água ,
era tão
preciosa e necessária .
E lembrou-se do Pai , o Pai Sapo , que sempre
observava tudo atentamente
antes de se aproximar ,
e se possível camuflado entre os verdes
da vegetação , só
com os olhinhos de fora .
E foi aí que viu uma
coisinha vermelha se movendo de um lado para o outro .
Parecia um cogumelo , mas isso era impossível ,
nunca ouvira falar
que eles
pudessem andar por
aí a correr pelos campos .
Ah! Ali havia coisa ! Oh se havia!
Segurando um cachimbo e
saltitando numa perna só , estava um
negrinho rindo e agitando seu
chapeuzinho no ar .
E Alcides nem sabia se devia aproximar-se, ou
correr para bem longe dali.
A curiosidade venceu, e enchendo-se de coragem ,
cumprimentou aquele ser
endiabrado, mas simpático .
– Como vai. Festejando a Primavera ?
–"Eh ! eh ! eh !
Não tens medo de mim?
Eh! Eh! Eh!
Sou o Saci Pererê,
Eh! Eh! Eh!
Tudo sabe e tudo vê!"
– "Quero ser seu
amigo, isto se o Senhor deixar", disse o pequeno sapo, já feliz com o rumo
da conversa.
– "Eh! eh! eh!”, respondeu Saci:
"Quem é ruim
fuja de mim,
quem é mau
leva com pau,
quem é tolo
leva com bolo,
quem bem quer
pode me ver."
E isto dizendo,
mandou parar o vento, e tudo à sua volta se aquietou.
Saci olhou dentro dos
grandes e admirados olhos do sapo. E gostou do que viu.
– “És um bom rapaz
e isso me apraz
Um pouco curioso.
e algo teimoso
Tens bom coração
serás meu irmão!”
E assim foi que
ficaram grandes amigos.
Saci convidou Alcides
para a festa que estava comemorando naquele dia com todas as plantas, as
flores, as árvores e mais os animais da redondeza, que deviam estar a chegar a
qualquer momento. Explicou-lhe como aquela era uma data importante, uma altura
em que tudo era ternura e travessura, algumas surpresas e muitas estranhezas,
mas todos amigos e divertidos, e terminou recomendando que todo ano se deveria
lembrar deste acontecimento.
O sapo ficou assim a
saber que, todo o dia 31 de Outubro, era dia de Saci.
Alcides prometeu
nunca esquecer, e depois de pensar um pouco na forma de comemorar, disse:
– “Pois meu bom
Senhor Saci, saiba que sempre o lembrarei, e mais, vou ensinar a todos os
sapos, rãs, salamandras e camaleões a assobiar e fazer remoinhos na água. Olhe,
me desculpe se não o abraço, mas é porque a minha pele está sempre viscosa e
úmida, e também esse seu cachimbo me faz tossir.
Adeus e obrigado pela
festa”
E isto dizendo,
saltou para o rio e desapareceu, deixando atrás de si círculos e mais círculos,
que se alargavam pela superfície da água até à margem, onde Saci os apanhou e
atirou ao ar.
Que lindo Arco Íris
se formou!
E Saci riu de
contente e dançou numa perna só, que até dava gosto ver.
Esta foi a história
do pequeno sapo Alcides, que encontrou o Saci na floresta à beira dum
rio.
***
Claro que Alcides
seguiu logo para a sua casa, no lago ali próximo.
E foi uma falação,
disto e daquilo, de como tinha ficado amigo, e até dançado com seu Saci Pererê,
do gorro vermelho, das flores e do vento, da prosa que trocaram, e de como ele
haveria de escrever e contar esta aventura a seu primo Manezinho, e depois mais
tarde, muito mais tarde, também contaria esta aventura extraordinária aos seus
próprios filhos...
Os Pais sorriram
entre si, mas logo acrescentaram:
–Sim,
sim, nós acreditamos que você esteve mesmo com o Saci, mas agora é hora de
dormir meu filho!
E que sonhos ele teve
nessa noite cheia de estrelas e luar.
Mas isso fica por
contar, pois os sonhos fogem ao acordar.
Eugénia Tabosa
31 de Outubro 2010
1 comentário:
Olá, Eugênia,
Adoro histórias de Saci! Vou repassar para meu alunos! Abraço
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