Numa tarde de verão, inesperadamente uma borboleta entrou pela casa dentro deu voltas ás cegas e por fim a luz guiou-a para uma das janelas fechadas. Em vão tentava passar e desesperada debatia-se contra os vidros tentando sair.
Ofereci-lhe a mão como ajuda mantendo-me parada e sem tentar tocar-lhe, mas ela estava demasiado assustada, só via a luz, as flores e as árvores tão próximas e inacessíveis.
Por fim cansada e sem compreender o obstáculo invisível, parou de asas abertas como se delas viesse a força para transpor o vidro.
Aproximá-mo-nos e podemos ver como era linda e delicada: - E sua vida é tão breve... cada minuto é precioso...
E começamos a temer por ela.
O nosso receio imediato era que ela voltasse para trás voando desesperada e os gatos a apanhassem.
O perigo era mesmo o Julião que mantém bem vivo o instinto felino de caçador... Ágil salta, sobe às árvores, apanha os pássaros em pleno vôo. Listrado e de olhar vivo parece arraçado de lince; mas vive em paz com os gatos e o cão da casa e gosta que o chamem pelo nome. (É o meu gato preferido).
A estratégia foi a Andréa levar os gatos para fora da sala, eles seguiram a dona que mal teve tempo de fechar a porta, deixando miados e protestos lá fora.
Enquanto isso, e continuando de máquina fotográfica em punho, eu esperava ansiosa por sua rápida volta e ajuda. E no silêncio da casa sem ousarmos falar, chegamo-nos ainda mais perto. Então muito lentamente Andréa deslizou as mãos, pelo vidro até quase tocar na borboleta e esperou. E ficou imóvel e paciente aguardando.
E foi assim. Como que acordando a borboleta estremeceu e voou para o aconchego daquelas mãos amigas que lhe pareceram confiáveis. Estendeu as patinhas e até parecia que nos olhava de lado.
Mas surgiu novo problema: a janela era pesada, de guilhotina, estava fechada e eu queria tirar fotos e só com uma mão era impossível fazer as duas coisas.
Por troca de sinais e risos, resolvemos ver até onde iria a confiança da borboleta, a nossa calma e habilidade.
Aí trocamos de estratégia e papeis: eu ofereci - lhe a mão que não estava ocupada e, depois de alguma hesitação mas sem pressas a bichinha lá subiu, enquanto a Andréa abria a janela e tentando animá-la soprava levemente imitando carícias de vento.!
Passaram-se uns minutos... Parecia que a borboleta estava a tomar fôlego para poder voar.
E finalmente a liberdade.
Mas na alegria e comoção de termos conseguido devolve-la à natureza nem nos lembramos de tirar fotos dela a voar em direção às árvores.
Seguimos-lhe o vôo num silêncio cúmplice e feliz. Era linda e batendo as asas coloridas contra o azul do céu ela foi subindo, sumindo...
E agora voltou nesta pequena história...