Era uma vez um menino que nascera de um ovo duma galinha pedrês.
O menino não era amarelinho, nem tinha penas, nem bico como seus irmãos de ninhada, era mesmo um menininho carequinha e rosado. Em comum tinham a boca sem dentes e os olhos redondos.
- (Pensamento terrível: e se antes dele ter nascido o ovo tivesse sido cozinhado?).
A mãe galinha dava-lhe de comer, ensinava-o a esgravatar a terra e como devia esticar o pescoço depois de beber água. Quando se portava mal ou não obedecia, recebia amorosas bicadas, como qualquer pequeno pinto
Um dia o menino começou a falar em vez de piar. Foi um reboliço no galinheiro. Todos os pintainhos fugiram dele, a galinha pedrês cacarejava desesperada e os demais companheiros, o galo, a pata e o perú davam saltos e batiam as asas.
Então o menino ergueu-se, andou, abriu a porta de rede e foi-se para a vida. Cresceu e virou um rapazinho e depois um homem. Mas nunca dizia ter nascido de um ovo. Vergonhas...
Lisboa, 1950
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