27 outubro 2009

C- 007- ERA UMA VEZ – (contava eu a minha filha):

Dona Joana Carochinha saiu. Era uma manhã cheia de flores e as estrelas à muito que dormiam.

O sol ainda não chegara, havia um lago a meio do caminho onde ele gostava de se olhar e por vezes esse olhar era tão longo que os dias ficavam cinzentos e as nuvens choravam de sós.

A joaninha, como não fazia calor não levava chapéu nem sombrinha, ia leve e de corrida de flor em flor.

Falava-lhes baixinho com palavras redondas e pequenas.

As flores olhavam-na, escutavam, sorriam cheirosas e abanavam as cabeças.

Então ela lá voava para outro tufo de flores e outro e outro, mas todas continuavam a acenar que não, acabando algumas por se fechar, outras a se encobrir com folhas e até umas poucas a enfiar o nariz no chão na maior das tristezas!

Desanimada, ainda menor na sua capa vermelha de bolinhas pretas, pousou por fim num bambu junto ao lago, mas longe da margem e das rãs. E chorou em silêncio.

Foi nisto que surgiu o Sol espreguiçando os raios por entre as nuvens que pareciam pássaros a esvoaçar.

E o jardim todo se iluminou, criou vida e sons e aromas. As flores só não dançavam de felicidade por terem nos pés os sapatos de terra.

Então o Sol viu Joaninha quieta, parada e sem sorrir como era costume quando ele aparecia. E quis saber o que se passava.

E ela contou:

- As flores eram tão lindas e ela gostava tanto, tanto delas que hoje resolvera perguntar se alguma quereria ir com ela morar. Mas a sua casinha era pequena, era aquele buraquinho no muro da hera... Então nenhuma flor do jardim lhe disse que sim, que teria muito prazer etc. etc., nem uma só quisera ir com ela viver!

O Sol disse que iria pensar e que no outro dia lhe traria flores pequeninas.

E assim foi...

Quando Joana Carochinha tornou a sair na manhã seguinte, depois de as estrelas à muito dormirem, chegou o Sol com um raminho de miosótis azuis.

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Parede, 1960

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