Grumilde adormeceu frente à TV, era campanha eleitoral. Ouvindo palmas e gritos, corre, dá uma bofetada no filho, tropeça no gato e insulta a vizinha
Se me falares te falarei, se me parlares te parlarei, se te calares não me calarei... Palavras alinhadas, alinhavadas, ora sérias ora tresloucadas
Grumilde adormeceu frente à TV, era campanha eleitoral. Ouvindo palmas e gritos, corre, dá uma bofetada no filho, tropeça no gato e insulta a vizinha
Antão levantou tarde e dorido naquele domingo morno de Verão. Olhou a barba malsemeada, a meia rota,o cigarro caído na pia... Voltou para a cama
Sentou-se como se o tempo não mais contasse e esperou.
Era a quinta vez que ali vinha sem nada ser resolvido.
Quando finalmente foi atendida espalhou a papelada, fincou os cotovelos no alto balcão do Banco e declarou que não sairia sem estar o problema solucionado.
O relógio andava, os empregados conversavam e a velhinha sorria e esperava, engolindo a raiva.
O Banco já fechara, nem mais clientes havia.
Por trás dos computadores ouviam-se os teclados e a rodagem das máquinas de contar dinheiro.
O ar condicionado espalhou-se frio e silencioso pela enorme sala, apagando a lembrança do dia suado.
Sem ruído, no placar iam caindo os minutos.
Alguém tossiu no andar de cima.
Então rapidamente tudo foi fácil e, quase sem palavras se fez a transação.
Destrancaram a porta para ela sair
Cinco cabeças dez olhos e um enorme silêncio seguiram a velha senhora que acenou suavemente prometendo voltar em breve...
Ofereci-lhe a mão como ajuda mantendo-me parada e sem tentar tocar-lhe, mas ela estava demasiado assustada, só via a luz, as flores e as árvores tão próximas e inacessíveis.
Aproximamo-nos e podemos ver como era linda e delicada: - E sua vida é tão breve... cada minuto é precioso...
E começamos a temer por ela.
O nosso receio imediato era que ela voltasse para trás voando desesperada e os gatos a apanhassem. O perigo era mesmo o Julião que mantém bem vivo o instinto felino de caçador... Ágil salta, sobe às árvores, apanha os pássaros em pleno vôo. Listrado e de olhar vivo parece arraçado de lince; mas vive em paz com os gatos e o cão da casa e gosta que o chamem pelo nome. (É o meu gato preferido)
Enquanto isso, e continuando de máquina fotográfica em punho, eu esperava ansiosa por sua rápida volta e ajuda.
E foi assim. Como que acordando a borboleta estremeceu e voou para o aconchego daquelas mãos amigas que lhe pareceram confiáveis. Estendeu as patinhas e até parecia que nos olhava de lado.
Por troca de sinais e risos , resolvemos ver até onde iria a confiança da borboleta, a nossa calma e habilidade.
Aí trocamos de estratégia e papeis: eu ofereci - lhe a mão que não estava ocupada e, depois de alguma hesitação mas sem pressas a bichinha lá subiu, enquanto a Andréa abria a janela e tentando animá-la soprava levemente imitando carícias de vento.!
E finalmente a liberdade.
Mas na alegria e comoção de termos conseguido devolve-la à natureza nem nos lembramos de tirar fotos dela a voar em direção às árvores.
Seguimos-lhe o vôo num silêncio cúmplice e feliz. Era linda e batendo as asas coloridas contra o azul do céu ela foi subindo , sumindo...
E agora voltou nesta pequena história...
No seu mundo tranquilo os peixes deslizam nas águas do lago, onde o céu parece também querer mergulhar.
Toninho Cardoso era um menino chato. Vivia de levantar a saia às meninas no recreio. Um dia fizemos uma roda e ele no meio.
Acompanhada do Pai e da marcha nupcial a noiva chega enfim ao altar. Mas alérgica às flores, ela espirra deixando o véu opaco e o noivo a vomitar.
Era uma mulher de braço forte e pegava no trabalho ao nascer do Sol. Tinha duas filhas, loirinhas e o marido mandrião que ficava exausto de a barbear.
Zé Cigano espera com os cinco filhos que a mulher acabe de parir. Quando a comadre grita “Gémeos” Zé desvairado tenta meter o último de volta ao útero.
Um grupo de árvores, casacos de neve vestidos, espera o anoitecer para ir à Ceia de Natal.
MC 030 – Suspiro
Tomé afastou a feijoada onde dois ovos o olhavam lembrando a galinha roubada à vizinha que saíra gritando pelada a meio da noite. Belos ovos, suspirou!
Arranjando as unhas do deputado recém eleito, Betinha sonha com praias e palmeiras enquanto sorri promissora, tentando esquecer a verruga no nariz.
A ambulância corria louca pela cidade gritando passagem. O balão de soro seguiu o ferido porta fora naquela noite de luar.
Elegante D.Ema rege, batuta em punho, o orfeão da escola. No gesto largo o colar de pérolas solta-se como lágrimas. As alunas festejam a aula acabada.
O mendigo esticou a perna e fez cair D. Amélia sobre o cão que ganindo saltou sobre o pedinte, espalhando o ganho do dia pela rua. Ela seguiu feliz
Abriu as janelas, retirou os panos que cobriam o espelho, sentou-se ao piano jogando o cabelo para trás e tocou um Alegro ma non tropo.
Depois de pintar as sobrancelhas ralas, Dona Aurélia traçou na cabeça um risco ao meio e chamou a criada para lhe emprestar as tranças.
De noite, sozinho na cama, ele sonhava que subia, descia e se perdia entre luxuriantes montes de Montes de Vénus.