23 abril 2007

Uma tarde burocrática

A velha senhora chegou, de olhar passivamente teimoso.

Sentou-se como se o tempo não mais contasse e esperou.

Era a quinta vez que ali vinha sem nada ser resolvido.

Quando finalmente foi atendida espalhou a papelada, fincou os cotovelos no alto balcão do Banco e declarou que não sairia sem estar o problema solucionado.

O relógio andava, os empregados conversavam e a velhinha sorria e esperava, engolindo a raiva.

O Banco já fechara, nem mais clientes havia.

Por trás dos computadores ouviam-se os teclados e a rodagem das máquinas de contar dinheiro.

O ar condicionado espalhou-se frio e silencioso pela enorme sala, apagando a lembrança do dia suado.

Sem ruído, no placar iam caindo os minutos.

Alguém tossiu no andar de cima.

Então rapidamente tudo foi fácil e, quase sem palavras se fez a transação.

Destrancaram a porta para ela sair

Cinco cabeças dez olhos e um enorme silêncio seguiram a velha senhora que acenou suavemente prometendo voltar em breve...

22 abril 2007

A Borboleta

Este conto é para ti Andréa, minha amiga, filha, nora. É um carinho também para o Eduardo

Numa tarde de verão, inesperadamente uma borboleta entrou pela casa dentro deu voltas ás cegas e por fim a luz guiou-a para uma das janelas fechadas. Em vão tentava passar e desesperada debatia-se contra os vidros tentando sair.

Ofereci-lhe a mão como ajuda mantendo-me parada e sem tentar tocar-lhe, mas ela estava demasiado assustada, só via a luz, as flores e as árvores tão próximas e inacessíveis.

Por fim cansada e sem compreender o obstáculo invisível, parou de asas abertas como se delas viesse a força para transpor o vidro.

Aproximamo-nos e podemos ver como era linda e delicada: - E sua vida é tão breve... cada minuto é precioso...

E começamos a temer por ela.

O nosso receio imediato era que ela voltasse para trás voando desesperada e os gatos a apanhassem. O perigo era mesmo o Julião que mantém bem vivo o instinto felino de caçador... Ágil salta, sobe às árvores, apanha os pássaros em pleno vôo. Listrado e de olhar vivo parece arraçado de lince; mas vive em paz com os gatos e o cão da casa e gosta que o chamem pelo nome. (É o meu gato preferido)

A estratégia foi a Andréa levar os gatos para fora da sala, eles seguiram a dona que mal teve tempo de fechar a porta, deixando miados e protestos lá fora.

Enquanto isso, e continuando de máquina fotográfica em punho, eu esperava ansiosa por sua rápida volta e ajuda. E no silêncio da casa sem ousarmos falar, chegamo-nos ainda mais perto . Então muito lentamente Andréa deslizou as mãos, pelo vidro até quase tocar na borboleta e esperou. E ficou imóvel e paciente aguardando.

E foi assim. Como que acordando a borboleta estremeceu e voou para o aconchego daquelas mãos amigas que lhe pareceram confiáveis. Estendeu as patinhas e até parecia que nos olhava de lado.

Mas surgiu novo problema: a janela era pesada, de guilhotina, estava fechada e eu queria tirar fotos e só com uma mão era impossível fazer as duas coisas.

Por troca de sinais e risos , resolvemos ver até onde iria a confiança da borboleta, a nossa calma e habilidade.

Aí trocamos de estratégia e papeis: eu ofereci - lhe a mão que não estava ocupada e, depois de alguma hesitação mas sem pressas a bichinha lá subiu, enquanto a Andréa abria a janela e tentando animá-la soprava levemente imitando carícias de vento.!

Passaram-se uns minutos ... Parecia que a borboleta estava a tomar fôlego para poder voar.

E finalmente a liberdade.

Mas na alegria e comoção de termos conseguido devolve-la à natureza nem nos lembramos de tirar fotos dela a voar em direção às árvores.

Seguimos-lhe o vôo num silêncio cúmplice e feliz. Era linda e batendo as asas coloridas contra o azul do céu ela foi subindo , sumindo...

E agora voltou nesta pequena história...

18 abril 2007

MC-037 – Paz dos peixes

No seu mundo tranquilo os peixes deslizam nas águas do lago, onde o céu parece também querer mergulhar.

01 abril 2007

MC-036 – Querido Tio

Vó Elvira chegou de boca fina inquisidora. Meu tio não resistiu e foi a correr colocar um disco carnavalesco no gramofone. Ela nunca mais nos visitou

MC-035 – O Toninho

Toninho Cardoso era um menino chato. Vivia de levantar a saia às meninas no recreio. Um dia fizemos uma roda e ele no meio. Voltou em cuecas para casa.

MC-034 – Casamento

Acompanhada do Pai e da marcha nupcial a noiva chega enfim ao altar. Mas alérgica às flores, ela espirra deixando o véu opaco e o noivo a vomitar.

MC-033 – A Maria barbuda

Era uma mulher de braço forte e pegava no trabalho ao nascer do Sol. Tinha duas filhas, loirinhas e o marido mandrião que ficava exausto de a barbear.